
O livro vendeu 250000 exemplares, a história foi manchete até no New York Times e vai virar filme com a Débora Secco no papel principal.
Bom, alguma coisa deve ter aí, pensei. E até tem mesmo.
É que sexo vende. Vende porque todo mundo faz e quer fazer bem feito. Um livro que vem de uma profissional da área deve ter algo a dizer.
E por isso, muitos tiveram a curiosidade em torno de um relato totalmente despido (desculpem, não resisti ao trocadilho infame) de hipocrisias, que mostra a rotina, as malandragens e o que pensa uma garota de programa.
Não é elegante ou romanceado. É um texto autobiográfico sobre uma vida incomum (?) e com uma sistematização interessante, fragmentada em trechos didaticamente organizados.
A história de vida dela, moça de baixa autoestima, que foi adotada por família rica e "rebelde sem causa", cleptomaníaca, bulímica, usuária de drogas, bissexual que vê no sexo a maneira mais fácil de ser independente, é escrita sem rodeios, o que torna a leitura bastante ágil.
Algumas passagens são à primeira vista contraditórias, como quando ela afirma gostar da "vida", pois se sentia valorizada, por alguém querer pagar para fazer sexo com ela, mas logo em seguida escrever que se arrependia amargamente de entrar nessa, entre outras.
Também fala sobre algumas curiosidades e preferências sexuais obscuras de alguns clientes, o que é aspecto interessante e diz algo sobre a alma humana (principalmente, a masculina), que dificilmente outro "ramo de trabalho" conseguiria abordar...
Ela não faz juízos de valor dos clientes e também não fica justificando suas atitudes. Esse desprendimento da moral instituída é talvez a grande sacada do livro.
Embora ela saiba que haverá consequências para seus atos e ela não os nega e em determinados trechos parece até desejá-las. Lembra um pouco o que pregava Raul Seixas na sua Sociedade Alternativa - faze o que tu queres, onde tu queres, com quem quiseres.
Só que como o próprio Raul explicou mais para frente, também aguentes o que virá daí...
No fim das contas, é uma leitura curiosa pelo caráter biográfico (me amarro em relatos de vidas pouco usuais), mas no aspecto literário, não acrescenta grande coisa.
Nota: 6,5
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