
Dessa vez, não é uma frase do meu bruxo Thiago, e sim, um texto que ele desencavou das tumbas do seu início acadêmico.
Ele fala, com muito carinho, de algo que carimbou a personalidade de muitos de nós que lá estivemos: a conquista do título estadual escolar pela equipe infantil masculina do Assis Brasil em Passo Fundo - 1996.
É extenso, mas como blog é algo pessoal, me dou o direito de postar sobre um assunto que me é tão especial.
Para começar o artigo, acho que devo explicar o porquê da escolha do assunto.
Este esporte que para muitos é tão odiável, pois não é futebol (a paixão nacional), para mim é o jogo que deu mais alegria dentro do esporte. O Voleibol.
Com o Vôlei consegui vários títulos, como o JERGS de 1996 em que fomos campeões escolares estaduais na categoria infantil de forma invicta. Sobre este feito irei tratar neste artigo. Mas antes de chegar ao assunto, falarei como comecei nesta modalidade.
Aos 10 anos de idade, na 4º serie do colégio Assis Brasil, o professor de vôlei me olhou e convidou-me para fazer um teste numa peneira que aconteceria na semana que se sucederia. Eu era o mais alto da minha turma e já tinha uma pequena noção de vôlei.
No dia da peneira havia muitas pessoas mais velhas que eu fazendo o teste, com isso fiquei muito nervoso, mas consegui desempenhar o que foi pedido pelo professor e passei no teste, dando início a minha vida esportiva.
Logo no primeiro ano jogando, houve viagens que me ajudaram a fazer mais amizades, e com isso aprendi mais as regras e a parte tática e técnica do vôlei. Os treinos foram cada vez mais puxados e a nossa equipe cada vez mais foi se equilibrando e ganhando cara de equipe mesmo. Conforme os jogos iam acontecendo, nós íamos ganhando e criando coragem para novas aventuras.
E a maior aconteceu no ano de 1996; eu estava na 8º série. Neste ano o primeiro torneio que disputamos foi o campeonato municipal na categoria infantil e infanto. No campeonato infantil não tivemos dificuldades de ganhar os jogos, e nos sagrarmos campeões. E no infanto, a equipe infantil, foi a que deu base para a equipe ganhar o campeonato.
A equipe estava com muita vontade de alcançar vôos mais altos, pois em nível de cidade, havíamos ganhado todos os torneios possíveis. Então, como de costume, o nosso professor nos colocou em um torneio que acontece todos os anos em Bagé, no colégio Carlos Kluwe. Até então nenhuma novidade, mas só que não sabíamos que iríamos jogar contra pessoas de categorias mais avançadas que a nossa.
Ao chegarmos lá, vimos pessoas bem mais velhas que nós, o que nos deixou até certo ponto bem preocupado. Foi então que o professor abriu o jogo nos falando que iríamos jogar contra pessoas da categoria juvenil, ou seja, duas categorias mais avançadas que a nossa.
Achávamos que iríamos perder feio, pois éramos infantis no meio de juvenis. Só que nem nós sabíamos de nosso potencial. Ganhamos o torneio com facilidade, o que fez com que, aí sim, pensássemos em alcançar o tão grandioso campeonato estadual de clubes e o escolar.
O campeonato escolar era realizado em quatro etapas. A primeira etapa era realizada dentro de cada município, onde cada escola colocava o seu time e o ganhador da fase municipal passava para a fase seguinte. A Segunda fase era uma micro-regional, onde também somente uma equipe era classificada para a fase seguinte, a regional, onde o campeão de cada micro região se enfrentava e o campeão desta etapa regional, se qualificava para a fase final.
Este campeonato tinha duas características bem marcantes. Uma, era que os jogos não passavam de três sets, logo quem alcançava a vitória em dois sets era o vencedor da partida, e a outra característica era que o time deveria ter sempre 12 jogadores inscritos em cada partida, pois todos os atletas deveriam jogar no mínimo um set inteiro.
A fase municipal para nós deveria ser a mais fácil, pois já havíamos ganhado o municipal e sabíamos quem iríamos enfrentar. Para nossa total surpresa os times inscritos nesta fase desistiram e ganhamos todos os jogos por W.O . Com estas vitórias nos credenciamos para disputar a fase micro-regional.
A partir desta etapa tudo era novidade, pois não conhecíamos nenhuma escola que iríamos enfrentar. A etapa micro-regional foi disputada por três cidades, Pelotas, Arroio Grande e Jaguarão e através de sorteio foi decidido que os jogos seriam realizados em nossa escola.
No dia do jogo o pavilhão do colégio estava completamente lotado, porque os jogos foram realizados num sábado que tinha aula. O nosso primeiro jogo foi contra o colégio de Jaguarão. Não jogamos muito bem, mas o suficiente para ganharmos o jogo por 2x0. Já o segundo jogo contra Arroio Grande foi mais fácil um pouco. A equipe estava entusiasmada com a vitória do primeiro jogo e com isso as coisas fluíram com mais naturalidade, ganhamos o jogo por 2x0 também.
Com estas duas vitórias nos classificamos para a última etapa antes da grande final. A etapa regional do campeonato escolar foi realizada em Bagé, e lá enfrentaríamos um colégio de Bagé e outro de Rio Grande. Ficamos sabendo que estes times haviam passado com tranqüilidade por suas etapas micro-regional, com isso intensificamos nossos treinos para jogarmos com estas duas pedreiras que estavam por vir.
Chegando a Bagé, fomos direto para o ginásio onde os jogos iriam acontecer, lá vimos os adversários que enfrentaríamos. Já havíamos enfrentado e vencido o colégio de Bagé um ano antes, já a escola de Rio Grande não conhecíamos, mas vimos que haviam pessoas bem mais altas e fortes que nós.
O nosso jogo foi o segundo, então assistimos a partida entre as escolas de Rio Grande e Bagé. O pessoal de Bagé havia melhorado muito e os de Rio Grande, para nossa surpresa, além de altos e fortes, eram bons. O jogo foi ganho por Rio Grande por 2x0. O nosso jogo era contra o perdedor desta partida, logo jogamos contra Bagé.
A partida foi bem nervosa com erros de ambas as partes, mas o nosso vôlei prevaleceu contra o deles e ganhamos por 2x0. Após esta vitória, o time sabia que enfrentaria a melhor equipe até então. A partida contra Rio Grande foi umas das mais emocionantes em que participei.
O jogo começou igual em todos os aspectos, eles viravam bola, nós também, eles acertavam saque, nós também, mas por sorte, ou talvez competência, ganhamos o primeiro set. No segundo set a equipe reserva entrou em quadra muito assustada e não conseguiram mostrar o que sabiam, vitória de Rio Grande. O jogo então foi para o tie-break, onde todo o ponto é ponto e com muita garra e determinação vencemos por 16x14, 2x1 para nós e a tão sonhada final estadual estava em nossas mãos.
Tudo aquilo era um sonho, chegar na final estadual, no meu último ano de colégio, estava perfeito.
A final era em dezembro e estávamos em setembro e sabíamos que em meados de outubro aconteceria a primeira etapa do estadual de clubes, na qual queríamos muito jogar. Conseguimos um patrocínio que cobriu quase todas as despesas, a Federação Gaúcha de Vôlei confirmou a nossa inscrição no torneio e fomos a Caxias do Sul participar do Campeonato.
A nossa chave era Sogipa, onde todo o atleta das categorias de base quer jogar, e UCS, que é hoje um dos melhores pólos de Vôlei do país. Os jogos eram todos no mesmo dia, logo enfrentaríamos duas vezes tanto UCS quanto Sogipa.
Sabíamos que os jogos seriam difíceis, mas não tão difícil quanto realmente foram. O primeiro jogo foi contra a Sogipa, levamos uma “paulada” que nunca mais vou esquecer na vida. O jogo foi 15x2 e 15x3. Agente não acreditava no que havia acontecido.
O jogo contra a UCS foi semelhante, derrota por 15x9 e 15x8. Estávamos praticamente fora, somente um milagre para nos salvar, pois tínhamos que ganhar os outros dois jogos, e não é que ele quase aconteceu!
Novamente jogamos contra a Sogipa, dessa vez, mais centrados no que tínhamos que fazer. Perdemos o primeiro set por 15x12 e vimos que os caras estavam em outro nível, mas não deveríamos desistir jamais. Vencemos, para surpresa geral, o segundo set por 15x11, levando o jogo para o tie-break.
Neste set não conseguimos segurar o time deles e perdemos o jogo por 15x13 dando adeus as nossas chances de classificação. No jogo contra a UCS, em seguida perdemos por 2x0 e voltamos para a casa, bem menos eufóricos e com os pés um pouco mais no chão.
No primeiro treino que houve após a vinda de Caxias, não deu nada certo. Todas as jogadas que fazíamos davam erradas. Foi então que o nosso técnico fez uma reunião e nos colocou a seguinte condição: ou colocaríamos uma pedra em cima do acontecido em Caxias ou certamente perderíamos também a final estadual, jogando o planejamento de um ano todo fora.
Resolvemos colocar uma pedra em cima de tudo e colocamos todas as nossas atenções na final estadual de escolas. O time conseguiu se superar bem e chegamos melhor do que pensávamos em Passo Fundo, local onde aconteceria a final do JERGS.
Na noite que viajamos não consegui dormir, estava muito nervoso e ansioso, mas era uma coisa boa, um sentimento bem gostoso. O ônibus saiu de Pelotas às 24h de uma sexta-feira e chegamos em Passo Fundo às 7h da manhã. Chegando lá, pegamos o carnê dos jogos.
Eram duas chaves com cinco cidades, os dois primeiros de cada chave se classificariam para uma semifinal e em seguida a final. Na nossa chave estava Guaíba, Porto Alegre, Restinga Seca e Bento Gonçalves.
A nossa primeira partida foi contra Guaíba vencemos por 2x0. Esta partida por ser a primeira foi bem nervosa e equilibrada.
Porto Alegre foi nosso segundo adversário, era o time mais fácil da nossa chave e este jogo serviu para nos dar mais confiança nas partidas que se sucederiam, 2x0 também.
O terceiro jogo foi contra Restinga Seca, uma equipe muita boa e alta. Vencemos por 15x12 e 15x10, este confronto aconteceria novamente na final da competição.
A quarta partida contra Bento Gonçalves, outra equipe forte e também muito nojenta, o jogo foi 2x0 para nós e houve durante o jogo inteiro, provocação de ambas as partes.
Com estes resultados nos classificamos em primeiro lugar na nossa chave e na semifinal enfrentaríamos Passo Fundo, a equipe da casa. Nesta partida houve um fato um tanto quanto inusitado.
Como já foi explicado, todos os atletas da equipe deveriam participar da partida e com isso o treinador deles colocou o time reserva contra o nosso titular vencemos por 15x2, no segundo set o nosso time reserva jogou contra o titular deles e como já era de se desconfiar perdemos por 15x2 também.
A nossa equipe titular ficou muito indignada com o que houve e entrou em quadra no tie-break com uma garra nunca vista, vencemos o terceiro set por 15x0 e nos classificamos para a tão sonhada final estadual, depois de tanto treino, tanta luta, chegamos a final.
A noite que antecipou a final foi muito longa para quase todos nós, quase ninguém dormiu de nervosismo. Estávamos muito ansiosos para que chegasse logo este grande dia. Sabíamos do perigo que correríamos, jogaríamos contra a equipe mais difícil que enfrentamos na fase de classificação, Restinga Seca.
O dia da grande e sonhada final chegou e para quebrar a rotina fomos a pé para o ginásio, com isso a tensão do jogo foi diminuindo e o nervosismo deu lugar a alegria. Chegamos no ginásio 45 minutos antes de começar a partida, a equipe adversária já estava lá e muito concentrada nos exercícios que o treinador deles propunha.
Chegou a grande hora, bola para o ar que o jogo já vai começar. Nós começamos como de costume com o nosso time titular e o adversário também, demonstrando que nos enfrentariam de igual para igual.
O jogo começou parelho, com ambas as equipes se respeitando muito dentro da quadra. Mas no meio do primeiro set, conseguimos abrir uma vantagem grande que nos deu a vitória por 15x6. No segundo set, a exemplo da partida de Bagé na fase regional o nosso time reserva entrou nervoso e perdeu por 15x6, levando o jogo para o terceiro set.
No TIE-BRAKE, o nosso time titular voltou a quadra muito nervoso, mas com muita vontade de ganhar a partida e o campeonato.
Este terceiro set foi o melhor set que joguei em toda a minha vida. A nossa equipe tinha muitos jogadores de decisão que poderiam chamar o jogo para si, mas não eu.
Eu era o tipo de jogador que jogava para o time e não para quem vê a partida. Jogo no meio de rede, nesta posição o jogador não ataca muitas bolas e uma das suas funções é bloquear as bolas que o adversário ataca. E foi isso que fiz no terceiro set, bloquear.
O jogo recomeçou como no primeiro set muito equilibrado. A equipe adversária abriu uma vantagem grande no início do set, chegando o jogo estar 5x1. No meio do set, onde as equipes trocam de lado a partida estava 8x6, quando aconteceram duas coisas que nos deu força para virar a partida.
O nosso treinador pediu tempo e só nos falou uma coisa que fez com que entrássemos em quadra com muito mais vontade. Ele falou: “Por acaso o time deles é melhor ou no mínimo parecido com o time da Sogipa que vocês ganharam um set e quase ganharam o jogo?”. Isso foi uma injeção de moral que fez com que nós refletíssemos e entrássemos em quadra com uma louca vontade de ganhar a partida.
Logo após, ele começou a se sentir mal e teve que ser tratado por um médico que estava no local. Com isso não foi preciso falar muita coisa, nós só nos olhamos e sabíamos que teríamos que ganhar a partida pelo nosso técnico.
E foi isso que fizemos, logo na primeira bola depois da paralisação um jogador deles atacou uma bola e eu consegui bloqueá-lo, com isso vibramos muito e aí sim pode se dizer entramos em quadra para ganhar aquela partida. E foi assim até o ponto final daquele jogo.
A propósito, o último ponto do jogo foi o mais genial para mim. O nosso jogador sacou a bola, a partida estava 14x9 para nós, o adversário passou a bola na mão do levantador que a passou em seguida para o melhora atacante da equipe deles, o cara veio com uma vontade de cortar a bola impressionante e fez isso, mas ele não contava que eu conseguisse bloqueá-lo e fizesse o último ponto do jogo.
Logo após isso acontecer, saí correndo alucinado pelo ginásio gritando e vibrando, todo nosso time estava enlouquecido. O ginásio foi invadido pelos nossos amigos e jogadores das equipes inferiores que foram igualmente disputar a final, mas por detalhes não conseguiram chegar a finalíssima.
Lembro que a primeira pessoa que enxerguei foi o filho do nosso técnico correndo pela quadra sem camisa, chorando muito. Esta emoção foi transferida para todos os jogadores que jogaram aquela final. Foi um momento único na vida de todos nós.
Na entrega das medalhas e na volta para casa foi só festa. Chegando a Pelotas, nossos familiares estavam nos esperando na frente do colégio, houve até uma bateria de foguetes. Naquela noite saímos para comemorar a vitória, mas voltamos cedo para casa, pois na noite anterior não tínhamos quase dormido e a viagem havia sido cansativa.
Depois de um tempo até a RBS esteve em nosso ginásio para fazer entrevistas. Pode se dizer que aquela viagem me ajudou e muito para a escolha da faculdade que curso hoje.
Thiago é Mestre em Educação Física e hoje, emocionou muito o "filho do nosso técnico" com o envio de texto tão sincero, rico em detalhes e absolutamente inspirado em emoções que jamais serão esquecidas pelos guris que fizeram (a dele, a minha, do meu pai...) história em 1996.
Ele fala, com muito carinho, de algo que carimbou a personalidade de muitos de nós que lá estivemos: a conquista do título estadual escolar pela equipe infantil masculina do Assis Brasil em Passo Fundo - 1996.
É extenso, mas como blog é algo pessoal, me dou o direito de postar sobre um assunto que me é tão especial.
A luta pela vitória
Thiago Terra Borges
Para começar o artigo, acho que devo explicar o porquê da escolha do assunto.
Este esporte que para muitos é tão odiável, pois não é futebol (a paixão nacional), para mim é o jogo que deu mais alegria dentro do esporte. O Voleibol.
Com o Vôlei consegui vários títulos, como o JERGS de 1996 em que fomos campeões escolares estaduais na categoria infantil de forma invicta. Sobre este feito irei tratar neste artigo. Mas antes de chegar ao assunto, falarei como comecei nesta modalidade.
Aos 10 anos de idade, na 4º serie do colégio Assis Brasil, o professor de vôlei me olhou e convidou-me para fazer um teste numa peneira que aconteceria na semana que se sucederia. Eu era o mais alto da minha turma e já tinha uma pequena noção de vôlei.
No dia da peneira havia muitas pessoas mais velhas que eu fazendo o teste, com isso fiquei muito nervoso, mas consegui desempenhar o que foi pedido pelo professor e passei no teste, dando início a minha vida esportiva.
Logo no primeiro ano jogando, houve viagens que me ajudaram a fazer mais amizades, e com isso aprendi mais as regras e a parte tática e técnica do vôlei. Os treinos foram cada vez mais puxados e a nossa equipe cada vez mais foi se equilibrando e ganhando cara de equipe mesmo. Conforme os jogos iam acontecendo, nós íamos ganhando e criando coragem para novas aventuras.
E a maior aconteceu no ano de 1996; eu estava na 8º série. Neste ano o primeiro torneio que disputamos foi o campeonato municipal na categoria infantil e infanto. No campeonato infantil não tivemos dificuldades de ganhar os jogos, e nos sagrarmos campeões. E no infanto, a equipe infantil, foi a que deu base para a equipe ganhar o campeonato.
A equipe estava com muita vontade de alcançar vôos mais altos, pois em nível de cidade, havíamos ganhado todos os torneios possíveis. Então, como de costume, o nosso professor nos colocou em um torneio que acontece todos os anos em Bagé, no colégio Carlos Kluwe. Até então nenhuma novidade, mas só que não sabíamos que iríamos jogar contra pessoas de categorias mais avançadas que a nossa.
Ao chegarmos lá, vimos pessoas bem mais velhas que nós, o que nos deixou até certo ponto bem preocupado. Foi então que o professor abriu o jogo nos falando que iríamos jogar contra pessoas da categoria juvenil, ou seja, duas categorias mais avançadas que a nossa.
Achávamos que iríamos perder feio, pois éramos infantis no meio de juvenis. Só que nem nós sabíamos de nosso potencial. Ganhamos o torneio com facilidade, o que fez com que, aí sim, pensássemos em alcançar o tão grandioso campeonato estadual de clubes e o escolar.
O campeonato escolar era realizado em quatro etapas. A primeira etapa era realizada dentro de cada município, onde cada escola colocava o seu time e o ganhador da fase municipal passava para a fase seguinte. A Segunda fase era uma micro-regional, onde também somente uma equipe era classificada para a fase seguinte, a regional, onde o campeão de cada micro região se enfrentava e o campeão desta etapa regional, se qualificava para a fase final.
Este campeonato tinha duas características bem marcantes. Uma, era que os jogos não passavam de três sets, logo quem alcançava a vitória em dois sets era o vencedor da partida, e a outra característica era que o time deveria ter sempre 12 jogadores inscritos em cada partida, pois todos os atletas deveriam jogar no mínimo um set inteiro.
A fase municipal para nós deveria ser a mais fácil, pois já havíamos ganhado o municipal e sabíamos quem iríamos enfrentar. Para nossa total surpresa os times inscritos nesta fase desistiram e ganhamos todos os jogos por W.O . Com estas vitórias nos credenciamos para disputar a fase micro-regional.
A partir desta etapa tudo era novidade, pois não conhecíamos nenhuma escola que iríamos enfrentar. A etapa micro-regional foi disputada por três cidades, Pelotas, Arroio Grande e Jaguarão e através de sorteio foi decidido que os jogos seriam realizados em nossa escola.
No dia do jogo o pavilhão do colégio estava completamente lotado, porque os jogos foram realizados num sábado que tinha aula. O nosso primeiro jogo foi contra o colégio de Jaguarão. Não jogamos muito bem, mas o suficiente para ganharmos o jogo por 2x0. Já o segundo jogo contra Arroio Grande foi mais fácil um pouco. A equipe estava entusiasmada com a vitória do primeiro jogo e com isso as coisas fluíram com mais naturalidade, ganhamos o jogo por 2x0 também.
Com estas duas vitórias nos classificamos para a última etapa antes da grande final. A etapa regional do campeonato escolar foi realizada em Bagé, e lá enfrentaríamos um colégio de Bagé e outro de Rio Grande. Ficamos sabendo que estes times haviam passado com tranqüilidade por suas etapas micro-regional, com isso intensificamos nossos treinos para jogarmos com estas duas pedreiras que estavam por vir.
Chegando a Bagé, fomos direto para o ginásio onde os jogos iriam acontecer, lá vimos os adversários que enfrentaríamos. Já havíamos enfrentado e vencido o colégio de Bagé um ano antes, já a escola de Rio Grande não conhecíamos, mas vimos que haviam pessoas bem mais altas e fortes que nós.
O nosso jogo foi o segundo, então assistimos a partida entre as escolas de Rio Grande e Bagé. O pessoal de Bagé havia melhorado muito e os de Rio Grande, para nossa surpresa, além de altos e fortes, eram bons. O jogo foi ganho por Rio Grande por 2x0. O nosso jogo era contra o perdedor desta partida, logo jogamos contra Bagé.
A partida foi bem nervosa com erros de ambas as partes, mas o nosso vôlei prevaleceu contra o deles e ganhamos por 2x0. Após esta vitória, o time sabia que enfrentaria a melhor equipe até então. A partida contra Rio Grande foi umas das mais emocionantes em que participei.
O jogo começou igual em todos os aspectos, eles viravam bola, nós também, eles acertavam saque, nós também, mas por sorte, ou talvez competência, ganhamos o primeiro set. No segundo set a equipe reserva entrou em quadra muito assustada e não conseguiram mostrar o que sabiam, vitória de Rio Grande. O jogo então foi para o tie-break, onde todo o ponto é ponto e com muita garra e determinação vencemos por 16x14, 2x1 para nós e a tão sonhada final estadual estava em nossas mãos.
Tudo aquilo era um sonho, chegar na final estadual, no meu último ano de colégio, estava perfeito.
A final era em dezembro e estávamos em setembro e sabíamos que em meados de outubro aconteceria a primeira etapa do estadual de clubes, na qual queríamos muito jogar. Conseguimos um patrocínio que cobriu quase todas as despesas, a Federação Gaúcha de Vôlei confirmou a nossa inscrição no torneio e fomos a Caxias do Sul participar do Campeonato.
A nossa chave era Sogipa, onde todo o atleta das categorias de base quer jogar, e UCS, que é hoje um dos melhores pólos de Vôlei do país. Os jogos eram todos no mesmo dia, logo enfrentaríamos duas vezes tanto UCS quanto Sogipa.
Sabíamos que os jogos seriam difíceis, mas não tão difícil quanto realmente foram. O primeiro jogo foi contra a Sogipa, levamos uma “paulada” que nunca mais vou esquecer na vida. O jogo foi 15x2 e 15x3. Agente não acreditava no que havia acontecido.
O jogo contra a UCS foi semelhante, derrota por 15x9 e 15x8. Estávamos praticamente fora, somente um milagre para nos salvar, pois tínhamos que ganhar os outros dois jogos, e não é que ele quase aconteceu!
Novamente jogamos contra a Sogipa, dessa vez, mais centrados no que tínhamos que fazer. Perdemos o primeiro set por 15x12 e vimos que os caras estavam em outro nível, mas não deveríamos desistir jamais. Vencemos, para surpresa geral, o segundo set por 15x11, levando o jogo para o tie-break.
Neste set não conseguimos segurar o time deles e perdemos o jogo por 15x13 dando adeus as nossas chances de classificação. No jogo contra a UCS, em seguida perdemos por 2x0 e voltamos para a casa, bem menos eufóricos e com os pés um pouco mais no chão.
No primeiro treino que houve após a vinda de Caxias, não deu nada certo. Todas as jogadas que fazíamos davam erradas. Foi então que o nosso técnico fez uma reunião e nos colocou a seguinte condição: ou colocaríamos uma pedra em cima do acontecido em Caxias ou certamente perderíamos também a final estadual, jogando o planejamento de um ano todo fora.
Resolvemos colocar uma pedra em cima de tudo e colocamos todas as nossas atenções na final estadual de escolas. O time conseguiu se superar bem e chegamos melhor do que pensávamos em Passo Fundo, local onde aconteceria a final do JERGS.
Na noite que viajamos não consegui dormir, estava muito nervoso e ansioso, mas era uma coisa boa, um sentimento bem gostoso. O ônibus saiu de Pelotas às 24h de uma sexta-feira e chegamos em Passo Fundo às 7h da manhã. Chegando lá, pegamos o carnê dos jogos.
Eram duas chaves com cinco cidades, os dois primeiros de cada chave se classificariam para uma semifinal e em seguida a final. Na nossa chave estava Guaíba, Porto Alegre, Restinga Seca e Bento Gonçalves.
A nossa primeira partida foi contra Guaíba vencemos por 2x0. Esta partida por ser a primeira foi bem nervosa e equilibrada.
Porto Alegre foi nosso segundo adversário, era o time mais fácil da nossa chave e este jogo serviu para nos dar mais confiança nas partidas que se sucederiam, 2x0 também.
O terceiro jogo foi contra Restinga Seca, uma equipe muita boa e alta. Vencemos por 15x12 e 15x10, este confronto aconteceria novamente na final da competição.
A quarta partida contra Bento Gonçalves, outra equipe forte e também muito nojenta, o jogo foi 2x0 para nós e houve durante o jogo inteiro, provocação de ambas as partes.
Com estes resultados nos classificamos em primeiro lugar na nossa chave e na semifinal enfrentaríamos Passo Fundo, a equipe da casa. Nesta partida houve um fato um tanto quanto inusitado.
Como já foi explicado, todos os atletas da equipe deveriam participar da partida e com isso o treinador deles colocou o time reserva contra o nosso titular vencemos por 15x2, no segundo set o nosso time reserva jogou contra o titular deles e como já era de se desconfiar perdemos por 15x2 também.
A nossa equipe titular ficou muito indignada com o que houve e entrou em quadra no tie-break com uma garra nunca vista, vencemos o terceiro set por 15x0 e nos classificamos para a tão sonhada final estadual, depois de tanto treino, tanta luta, chegamos a final.
A noite que antecipou a final foi muito longa para quase todos nós, quase ninguém dormiu de nervosismo. Estávamos muito ansiosos para que chegasse logo este grande dia. Sabíamos do perigo que correríamos, jogaríamos contra a equipe mais difícil que enfrentamos na fase de classificação, Restinga Seca.
O dia da grande e sonhada final chegou e para quebrar a rotina fomos a pé para o ginásio, com isso a tensão do jogo foi diminuindo e o nervosismo deu lugar a alegria. Chegamos no ginásio 45 minutos antes de começar a partida, a equipe adversária já estava lá e muito concentrada nos exercícios que o treinador deles propunha.
Chegou a grande hora, bola para o ar que o jogo já vai começar. Nós começamos como de costume com o nosso time titular e o adversário também, demonstrando que nos enfrentariam de igual para igual.
O jogo começou parelho, com ambas as equipes se respeitando muito dentro da quadra. Mas no meio do primeiro set, conseguimos abrir uma vantagem grande que nos deu a vitória por 15x6. No segundo set, a exemplo da partida de Bagé na fase regional o nosso time reserva entrou nervoso e perdeu por 15x6, levando o jogo para o terceiro set.
No TIE-BRAKE, o nosso time titular voltou a quadra muito nervoso, mas com muita vontade de ganhar a partida e o campeonato.
Este terceiro set foi o melhor set que joguei em toda a minha vida. A nossa equipe tinha muitos jogadores de decisão que poderiam chamar o jogo para si, mas não eu.
Eu era o tipo de jogador que jogava para o time e não para quem vê a partida. Jogo no meio de rede, nesta posição o jogador não ataca muitas bolas e uma das suas funções é bloquear as bolas que o adversário ataca. E foi isso que fiz no terceiro set, bloquear.
O jogo recomeçou como no primeiro set muito equilibrado. A equipe adversária abriu uma vantagem grande no início do set, chegando o jogo estar 5x1. No meio do set, onde as equipes trocam de lado a partida estava 8x6, quando aconteceram duas coisas que nos deu força para virar a partida.
O nosso treinador pediu tempo e só nos falou uma coisa que fez com que entrássemos em quadra com muito mais vontade. Ele falou: “Por acaso o time deles é melhor ou no mínimo parecido com o time da Sogipa que vocês ganharam um set e quase ganharam o jogo?”. Isso foi uma injeção de moral que fez com que nós refletíssemos e entrássemos em quadra com uma louca vontade de ganhar a partida.
Logo após, ele começou a se sentir mal e teve que ser tratado por um médico que estava no local. Com isso não foi preciso falar muita coisa, nós só nos olhamos e sabíamos que teríamos que ganhar a partida pelo nosso técnico.
E foi isso que fizemos, logo na primeira bola depois da paralisação um jogador deles atacou uma bola e eu consegui bloqueá-lo, com isso vibramos muito e aí sim pode se dizer entramos em quadra para ganhar aquela partida. E foi assim até o ponto final daquele jogo.
A propósito, o último ponto do jogo foi o mais genial para mim. O nosso jogador sacou a bola, a partida estava 14x9 para nós, o adversário passou a bola na mão do levantador que a passou em seguida para o melhora atacante da equipe deles, o cara veio com uma vontade de cortar a bola impressionante e fez isso, mas ele não contava que eu conseguisse bloqueá-lo e fizesse o último ponto do jogo.
Logo após isso acontecer, saí correndo alucinado pelo ginásio gritando e vibrando, todo nosso time estava enlouquecido. O ginásio foi invadido pelos nossos amigos e jogadores das equipes inferiores que foram igualmente disputar a final, mas por detalhes não conseguiram chegar a finalíssima.
Lembro que a primeira pessoa que enxerguei foi o filho do nosso técnico correndo pela quadra sem camisa, chorando muito. Esta emoção foi transferida para todos os jogadores que jogaram aquela final. Foi um momento único na vida de todos nós.
Na entrega das medalhas e na volta para casa foi só festa. Chegando a Pelotas, nossos familiares estavam nos esperando na frente do colégio, houve até uma bateria de foguetes. Naquela noite saímos para comemorar a vitória, mas voltamos cedo para casa, pois na noite anterior não tínhamos quase dormido e a viagem havia sido cansativa.
Depois de um tempo até a RBS esteve em nosso ginásio para fazer entrevistas. Pode se dizer que aquela viagem me ajudou e muito para a escolha da faculdade que curso hoje.
Thiago é Mestre em Educação Física e hoje, emocionou muito o "filho do nosso técnico" com o envio de texto tão sincero, rico em detalhes e absolutamente inspirado em emoções que jamais serão esquecidas pelos guris que fizeram (a dele, a minha, do meu pai...) história em 1996.
Comentários
Abração meus queridos.
Vais ter que escrever um texto finalizando com o toque no teu minguinho!!!!
Eu posto aqui, tu sabe!
Abração brow!
Grande abraço.
Muito linda a atitude dele em detalhar o que aconteceu naquele ano que sinceramente, estava esquecido em minha memória.
Sou eternamente grato por ter feito parte deste time que pra mim, foi e sempre será o melhor!
Grande abraço a todos os amigos que lêrem os comentários, saudades de todos vocês!