
Por onde começar...?
Bom, vamos pelo biografado. Como é o esporte que me apaixona, me sinto bem à vontade para comentar os aspectos positivos e negativos de um livro com esta temática e ainda mais, sendo sobre um gênio (indomável) como foi/é o Ricardinho.
Por isso, vai ser um post meio grande, mas vamos lá.
Esse cara simplesmente revolucionou a posição de levantador e por consequência, o próprio voleibol. Mas esse não foi um processo, tipo "eureca", que surgiu de uma hora para outra, ou que nasceu com ele.
Ele teve o azar (ou sorte, depende do ponto de vista) de ser contemporâneo, embora um pouco mais novo, de outro superastro, Maurício, campeão olímpico em 92. Isso fez com que ele fosse reserva muito tempo. Mas esse foi o pulo do gato. Quando ele tinha uma rara oportunidade de jogar, ele mentalizou que deveria mostrar ter algum diferencial em relação ao titular.
Sempre treinando à exaustão, fez nascer aos poucos um estilo único, de supervelocidade no jogo. Tão difícil de ser executado, que levou muito tempo até os próprios companheiros se acostumarem a ele. Só que era uma coisa tão diferente de tudo que era jogado no mundo, que quando foi melhorando e realmente pegou mecânica, ficou quase impossível vencer o Brasil.
Ele começou a jogar na seleção em 97, mas só ganhou a titularidade 5 anos depois, já com o Bernardinho de técnico, nas semifinais do Campeonato Mundial em que o Brasil se sagrou campeão - aquele do ace na linha do Geovane no tie-break.
Depois disso, o seu jogo foi se aperfeiçoando - e os títulos se acumulando - cada vez mais até o ponto extremo (na minha opinião) que foi na Liga Mundial de 2007, onde o Brasil patrolou os adversários e Ricardinho foi eleito o melhor jogador do mundo.
Velocidade, ousadia e absurda precisão faziam dele um jogador inimitável - inclusive até hoje ninguém consegue jogar com aquela rapidez e imprevisibilidade de movimentos de 2007.
Essa a parte que eu gosto de escrever a respeito. Sobre um fenômeno do esporte e que tenho uma admiração gigantesca.
Mas, como o post é sobre o livro, que pena, tenho que mandar ver. O livro já começa mal, pois é uma biografia encomendada pelo próprio atleta. Complicado...
Ou seja, não chega a ser uma autobiografia, pois ele não escreveu de próprio cunho, nem uma reportagem biográfica, pois como foi feita a pedido do atleta, certamente o autor teve óbvias limitações ao escrever. É um meio-termo que não consegue convencer.
E fica difícil não achar um exercício de egocentrismo que alguém pague a outrem para escrever um livro sobre sua vida, mesmo que com intenções supostamente boas, como mostrar ao grande público que com virtudes como persistência, disciplina e paciência, se podem formar grandes vencedores.
Então o livro não consegue se livrar da louvação explícita, quase um puxa-saquismo mesmo. Fica xarope de engolir, pois mesmo que ele mereça tudo que é escrito, é algo que foi encomendado por ele mesmo...
E algumas questões que poderiam ter sido melhor explicadas, como seu corte para Sidney 2000, não foram feitas. Ele só relata que não sabe porque foi cortado, que foi uma injustiça, blá-blá-blá. Alguém acredita que realmente ninguém tenha dito pra ele a causa do seu corte? Por favor.
Há também, claro, suas explicações para o episódio envolvendo seu corte no Pan - algo que, de fato, penso que não foi a melhor maneira de "puní-lo", pois simplesmente nos fez perder a Olimpíada de Pequim. Trocamos ele, um gênio revolucionário por um bom jogador, Marcelinho. Só podia dar no que deu. Caras como ele tem que ser administrados e não, tratados a martelo.
De qualquer forma, o livro soa muito mais como projeto pessoal de mostrar sua vida e carreira e agradecer aos que foram importantes nesse processo - incluíndo capítulos especiais ao Bernardinho e ao Giba.
Pra mim, o que fica é a tristeza de, por causa de um embate mal solucionado, termos perdido um jogador único e que teve grande parcela na formação de um dos maiores times já montados na história de todos os esportes coletivos.
Quer dizer, o que ele é e fez, não é pouco. Pena que o livro não conta isso com a habilidade merecida.
Nota: 5,0
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