Primeiramente quero pedir desculpas pela minha baixa assiduidade no blog. Acho que as férias me deixaram preguiçoso ao extremo...
Para retornar com força máxima, venho com um texto bem didático de uma afirmação que faço, mas nem sempre dá pra ilustrar perfeitamente: nem todo filme clássico eu percebo que envelhece bem e por isso às vezes cometo "heresias" em minhas resenhas.
Trago então, dois filmes bem antigos onde um cabe perfeitamente na assertiva acima e outro que de forma alguma pode ser incluído, por permanecer tão poderoso e atual como quando foi lançado, há 60 anos atrás.
Esta obra-prima atende pelo nome de Julgamento em Nuremberg (1961).
São três horas e meia de uma história absolutamente envolvente (impossível não entrar em conflito e repensar a atitude do povo alemão que deu todo suporte para Hitler fazer tudo o que fez).
Dirigido com maestria pelo grande Stanley Kramer (de Adivinhe Quem Vem Para Jantar?, outro filme que aborda o tema da discriminação com propriedade), o filme não perdeu em nada com o tempo, pelo contrário.
Várias passagens são quase proféticas e chegam a ser quase engraçadas e aqui necessito de um parêntese para dar melhor ideia do que estou dizendo.
Ao final da Segunda Guerra, a Alemanha foi partida ao meio. Uma metade era responsabilidade dos EUA (onde houve os famosos julgamentos) e a outra da USSR. Berlim ocidental e oriental. Uma capitalista e a outra socialista. Era o início da Guerra Fria. Quem conseguisse controlar maior parte da Europa, teria grandes vantagens nessa corrida.
Então, quando um oficial norte-americano diz em certa passagem que "os EUA não sabem nada desse negócio de invadir e querer mandar no país dos outros", não poderia ser uma sentença mais adequada aos dias presentes, pois parece que passados 60 anos, eles ainda não aprenderam a fazer isso...
E esse aspecto político é muito importante na trama, pois havia além da intenção de se fazer "justiça" com os criminosos de guerra, também uma vontade camuflada de passar panos quentes para não ficar com pose de malvados perante o povo germânico, potencial aliado na guerra contra a USSR.
Não bastasse isso, tem um dos elencos mais inspirados que já pude presenciar, com pelo menos cinco atuações históricas: Spencer Tracy (o juíz), Burt Lancaster (o réu principal), Montgomery Clift e Judy Garland (testemunhas), além do mais espetacular de todos, Maximillian Schell, o advogado de defesa dos nazistas - aliás, condecorado com o Oscar por esta interpretação visceral.
É certamente um dos melhores filmes de tribunal que já vi e merece de sobejo a Nota 10! do blog.
Já em compensação, outro classicão que vi na mesma semana, não me permitiu a mesma sorte.
Pacto de Sangue (1944) é exatamente o oposto das características que fazem Nuremberg parecer tão atual.
Foi considerado pela AFI um dos melhores filmes estadunidenses do primeiro século do cinema, é dirigido pelo célebre Billy Wilder, tem roteiro de Raymond Chandler, patatipatatá...
Cara, o problema é que o filme tem demais a cara da sua época. O estilo dos atores, aquela vozinha irritante que parece ter um chiclete eterno na boca dizendo Baby pra lá, Baby pra cá... as paixões instantâneas e avassaladoras...
Pô, um vendedor de seguros recém conhece a mulher e em menos de um dia se apaixona e já planeja com ela uma forma de matarem o marido para ficarem com sua grana.
Tudo isso seria passável, pois o andamento do filme é bem feito, coisa e tal. Mas aí o desfecho é tão esquisito, que aí vem tudo à tona e fica complicado de achar ter visto um "baita filme", apenas por ser um clássico.
Ainda se fosse uma Liz Taylor, uma Grace Kelly talvez até desse para engolir melhor a paixão súbita, mas a Barbara Stanwyck não tinha nem perto dessa bola toda...
Esse leva 5,0, sem perdão.
Cotação IMDb - Julgamento em Nuremberg: 8.3 (19.399 votos)
Cotação IMDb - Pacto de Sangue: 8.5 (48.594 votos)
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