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1, 2, 3... Fight!!! - 23/01/2011

A edição de hoje do 1, 2, 3... Fight! vai ser de tirar o fôlego para os conhecedores de esporte, e em especial, de voleibol.

Vou me atrever a fazer uma comparação entre duas equipes que foram o máximo em suas épocas e dizer com todas as letras qual foi a melhor.

O desafio de hoje, então, é o seguinte: qual equipe foi melhor - a campeã olímpica masculina em Barcelona, 1992, ou a também campeã olímpica, em 2004 em Atenas?

Páreo duríssimo em questão, vamos logo ao que interessa: 1,2,3... Fight!

Em primeiro ponto, vou analisar os sistemas táticos.

Em 92, nós não tínhamos grandes centrais, apenas Paulão. Então o Zé Roberto inventou um sistema onde o Carlão e o Marcelo Negrão se revezavam na segunda posição de meio.

Era bem doido, às vezes entrava o Jorge Edson (que embora mais baixo, era da posição) no lugar do Negrão pra ajustar melhor o bloqueio, mas em geral funcionava muito bem.

O de 2004, já contava com o líbero e com uma escalação mais ortodoxa, com cada um na sua posição, sem improvisações.

É interessante levar isso em conta na hora de avaliar os jogadores, pois vou comparar alguns que não tinham funções totalmente idênticas, mas sim, as que mais se aproximavam.

Levantador

Maurício x Ricardinho: ambos geniais e marcaram época no esporte mundialmente. Em uma lista dos 10, talvez até dos 5 maiores de todos os tempos, ambos estariam incluídos.

O primeiro com uma distribuição perfeita e precisão absurda. Mas fico com o Ricardinho, pelo arrojo, imprevisibilidade, velocidade até hoje não igualada e pontaria tão boa quanto Maurício. 1992 0x1 2004.

Oposto

Marcelo Negrão x André Nascimento: nome e sobrenome para a posição de desafogo do time.

André Nascimento nunca foi das minhas maiores paixões - acho que ele pega a bola baixo para a posição e só consegue jogar bem com bola na mão (só que como o Ricardinho não errava nunca aqueles tiros impossíveis de chegar bloqueio duplo, ele fazia a festa).

Só que o Negrão foi considerado simplesmente o melhor jogador da Olimpíada e por muito tempo, o melhor atacante do mundo. Nenhuma dúvida: Negrão na cabeça. 1992 1x1 2004.

Ponteiro (mais alto)

Tande x Dante: só invertem suas consoantes, mas tinham funções iguais nos seus times: menor área de passe e mais liberdade para o ataque. Mas na verdade, o Dante, embora hoje seja um supercraque, na época era até reserva (de luxo, é verdade) e só jogou porque o Nalbert se lesionou e não ficou 100% para os jogos.

E o Tande era um titular inconteste e fundamental na conquista. Dá Tande. 1992 2x1 2004.

Ponteiro (mais baixo)

Geovane x Giba: ai, ai, ai... Passei toda minha adolescência querendo jogar como o Gigio (que no ano seguinte, seria eleito o MVP da Liga Mundial), sim, eu era atacante naquela época...

Só que o Giba - que foi o MVP de Atenas - até por sua representatividade histórica dentro da seleção, tem que ganhar essa. 1992 2x2 2004.

Central (mais alto)

Paulão x Gustavo: Dois gaúchos e dois cracaços da posição. Paulão passava (na época, precisava) e era extremamente técnico e competitivo. Mas sem dúvida, dá Gustavo pela força de ataque, bloqueio e saque, combinação letal do melhor central já visto no Brasil. 1992 2x3 2004.

Central (mais baixo)

Carlão x André Heller: Aqui é a disputa mais complicada. Carlão era um ponteiro que fazia as vezes de central, junto com o Negrão. O André era um central de fato e que, mesmo caso do Dante, era reserva do Rodrigão, que se machucou e chegou à meia-boca nos Jogos.

Mas ele acabou titular e jogou muito na Olimpíada. Mas mesmo enjambrado, tem que dar Carlão, por ser o capitão, liderança técnica, moral e emocional para todos os outros. 1992 3x3 2004.

Times titulares então, acabou em um empate - estou excluindo aqui a figura do Serginho, pois é de analogia impossível de ser realizada.

Vamos a outros fatores que podem nos ajudar a definir o time superior.

Desempenho nos jogos

A seleção de 1992 venceu todos seus 8 jogos, perdendo apenas incríveis 3 sets. Em 2004, o time perdeu um jogo (no qual entrou com um time misto, pois já estava classificada em 1º e não queria "mostrar o jogo" para os EUA), num total de 8 sets perdidos.

Time reserva

De longe, mas de muito longe mesmo, a maior diferencial entre as duas equipes.

Em 92, o time reserva tinha Talmo (levantador comum), Janelson (um ponteiro interessante, mas nada excepcional), 3 centrais mais ou menos, Jorge Edson, o veterano Amauri e o novato Douglas.

O único realmente de alto nível era o Pampa, reserva do Negrão, só que por causa do esquema em que o titular executava função mista, quase nunca entrava.

Já o time reserva de 2004 teria disputado título se fosse outro país. Ou algúem duvida que Maurício, Anderson, Geovane, Nalbert e Rodrigão (fora, o Serginho) não formavam uma superequipe?

Em Atenas, o time invertia o 5x1, trocava ponteiros, entrava o Rodrigão e sempre o time mantinha um padrão altíssimo de jogo, coisa que em Barcelona era impossível (sorte que o time titular sempre dava conta do recado).

Adversários

Mais ou menos semelhante.

O time do Zé Roberto jogou uma 1ª fase um pouco mais tranquila, sendo os adversários mais fortes, Cuba (que acabaria com o bronze), CEI (antiga U.S.S.R.) e a Holanda (que classificou em último, mas depois surpreendeu chegando à final, tirando Itália e Cuba do caminho).

Depois uma semi-final terrível (muito mais difícil que a própria final) contra os bicampeões olímpicos norte-americanos e uma final contra a zebra holandesa.

Já, o time do Bernardinho pegou uma 1ª fase bem complicada com Itália, Rússia, EUA e Holanda na chave. E mesmo assim se classificou em 1º lugar com uma rodada de antecedência.

Depois voltou a pegar EUA e Itália na semi e na final, respectivamente.

Ou seja, nas duas ocasiões, o Brasil pegou o vice e o bronze na chave inicial. Pedreiras nas duas Olimpíadas, com diferenças de dificuldades apenas nos dois jogos finais (92, semi difícil e final mais tranquila e em 2004, o contrário).

Técnicos


Zé Roberto x Bernardinho: feliz do país que tem dois homens tão capacitados para exercer essa mesma função.

Zé tinha e tem uma capacidade de observação absurda da sua equipe, um inovador que consegue sempre montar um esquema tático que aproveite o máximo do seu grupo. E em todas as vezes com um viés voltado para o ataque, qualidade que sempre procurei implantar em minhas equipes e que me apaixona.

Já o Bernardinho é o maluco, o obcecado por treinos e estatísticas, o obsessivo por vitórias, que nunca está satisfeito e sempre quer mais e mais.

Além disso, tem uma leitura de jogo impressionante e consegue sempre mudar partidas adversas com suas trocas, ou de jogadores, ou da tática, quase sempre oportunas.

Sou fã de carteirinha dos dois e ambos tem determinadas qualidades as quais sempre me espelhei descaradamente.

Mas se me colocarem uma arma na cabeça, eu digo que o Bernardinho pelo conjunto da obra, é o melhor.

Conclusão

Depois de muito pensar, chego ao veredicto. Se jogassem uma contra a outra, os times titulares fariam um jogo parelhíssimo, com os técnicos anulando dentro do possível as virtudes do adversário.

Porém, o Bernardinho tinha no seu banco muito mais coelhos para tirar da cartola e conseguiria com trocas de jogadores em momentos-chave fazer a diferença entre as equipes.

Poderia inverter o 5x1 colocando Maurício e Anderson, poderia melhor o passe colocando o Nalbert, aumentar o bloqueio com o Rodrigão, dar mais consistência tática com o Gigio...

Aliás, esse é exatamente o tipo de coisa que o Bernardinho fez, ao longo de toda a 1ª década desse 3º milênio e que o tornaram esse megacampeão e mentor intelectual de um time quase impossível de ser batido.

Por isso, dá Seleção de 2004.

Mas para quem não viu jogar, a de 1992 era fantástica também, tá?

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