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Pimenta do Élbio - 27/01/2011

Por Élbio Porcellis

Joan D’Arc e Pierre de Cauchon

A infanta D. Isabel, filha de D. João I e duquesa de Borgonha, foi (muito provavelmente), a impulsionadora da perseguição a Joana D’Arc.

Foi um caso mesquinho de vingança pessoal: Joana D’Arc a submetera a cerco quando chegara a Borgonha para se casar com Filipe, o Bom.

Implacável e vingativa (não perdoou nem mesmo o seu irmão D. Henrique, o "traidor" da Alfarrobeira), D. Isabel não parou até que Joana pagasse pela “insolência” com a própria vida.

Joana foi presa em uma cela escura e vigiada por cinco homens, como se fosse uma perigosa inimiga da coroa. Mas isso não bastava: era necessário tirar o enfoque de vingança política, apresentando uma “cortina de fumaça” de bruxaria.

Uma associação entre D. Isabel e o bispo de Beauvais, Pierre Cauchon, foi feita para conseguir o intento vingativo.

O processo contra Joana começou em 09/01/1431, chefiado por Cauchon, no papel de “representante de Deus”.

Dez sessões foram realizadas à revelia, sem possibilidade de defesa de Joana, apenas com a apresentação de “provas”, que resultaram na acusação de heresia e assassinato.

Apenas depois disso foi ouvida pela primeira vez, apenas para dar um caráter de idoneidade ao processo. Foi interrogada sobre as vozes que ouvia, sobre a igreja militante, sobre seus trajes masculinos.

No dia 28 de março, Thomas de Courcelles fez a leitura dos SETENTA (!) artigos da acusação, depois resumidos a DOZE.

Joana adoeceu por causa de ingestão de alimentos venenosos que lhe deram. Isto alertou Cauchon e os ingleses, que lhe trouxeram um médico. Queriam mantê-la viva, principalmente os ingleses (incrivelmente associados ao francês Cauchon e à infanta portuguesa D. Isabel), porque planejavam executá-la.

O médico, Jean d’Estivet, acusou Joana de ter ingerido os alimentos envenenados conscientemente para cometer suicídio – como se fosse possível que ela pudesse escolher os alimentos na prisão (um absurdo!).

Todos tentavam apressar o processo, cujo final já era anunciado. O Conde de Warwick pedia pressa a Cauchon, o bispo francês “pau mandado” de ingleses de da infanta.

Ela foi queimada viva em 30 de maio, com apenas dezenove anos. A cerimônia de execução aconteceu na Place du Vieux Marché. Suas cinzas foram jogadas no Sena para que não se tornassem objeto de veneração pública. Era o fim da heroína francesa.

A revisão do seu processo começou a partir de 1456, quando foi considerada inocente pelo papa Calisto II, e o processo que a condenou foi considerado inválido.

Em 1909 a Igreja Católica autorizou sua beatificação e, em 1920, foi canonizada pelo papa Bento XV.

Como se isso apagasse a injustiça cometida por Cauchon, em nome da Igreja e com autorização do papa.

Um crasso erro religioso, prestando-se a uma vingança pessoal de cunho político.

N.B.: essa Pimenta foi feita a pedido do blogueiro para dar um enfoque mais peculiar dos interesses políticos, religiosos e pessoais acerca do "julgamento" de Joana d'Arc.

Para quem queria saber quem a matou, eis a resposta: muita gente, inclusive os franceses que não quiseram pagar seu resgate - coisa que os ingleses fizeram para poder difamar seu nome e assassiná-la.

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