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Do Tempo do Epa - 20/04/2011


Que os EUA comemoram o dia 4 de julho de 1776 como sendo a data da sua independência do jugo britânico, todo mundo sabe.

Agora me diga uma coisa: você sabia que os EUA já tiveram um Imperador?

Se sua resposta é "não", não se assuste. Esse é um caso mais pitoresco que de cunho histórico na história estadunidense.

Lendo o incrível segundo volume da Edição Definitiva de Sandman (logo mais escrevo minha crítica sobre ela; para ler a resenha do primeiro volume, clique aqui), revi a HQ Três Setembros e um Janeiro.

Nela, Neil Gaiman, em uma das melhores HQs da série, conta a curiosíssima história de Joshua Abraham Norton, o Imperador Norton I dos EUA.

Esse cara foi um filho de empresário rico que botou todo dinheiro do velho fora em uma tentativa frustrada de golpe especulativo e estava em vias de se suicidar, quando do nada, mandou uma carta ao jornal San Francisco Bulletin se autodenominando o 1º imperador da história norte-americana.

Ninguém importante (leia-se Washington e New York) deu muita bola para os "decretos" seguintes do imperador como dissolvição do Congresso Americano e dos Partidos Democrata e Republicano...

Só que no far west californiano, esquecido pelos grandes políticos do leste da nação, aos poucos, Norton foi se tornando um ícone de protesto e começou a ser sustentado pela população e por grandes nomes da região.

Com isso angariou a amizade de famosos como Mark Twain, célebre escritor da época. A cidade o adorava e ele mesmo sem um pila no bolso, sempre tinha um lugar reservado em todos os restaurantes, andava para onde queria gratuitamente...

Dentre os seus casos mais famosos estão a ocasião onde foi preso por vadiagem por um guarda novato. Com a população em polvorosa, ele não só foi solto pelo próprio chefe de polícia e ainda recebeu um pedido formal de desculpas deste.

Em outra patuscada, lhe foi negada uma refeição em um trem. De pronto, Norton proferiu um decreto "extinguindo" a empresa - a mais importante da região. Em seguida, recebeu passe livre vitalício e mais um pedido formal de desculpas. Magnânimo, deu nova autorização para o funcionamento da empresa.

Solteiro e preocupado com a questão da "sucessão" do seu reinado, emitiu propostas formais de casamento à Rainha Vitória da Inglaterra e também com isso, sugerindo a unificação das duas coroas. Ele não obteve resposta...

Mas ele não foi tão doido assim. Sabe a Golden Gate, ponte que fica sobre a baía de São Francisco? Em 1936, o governo da Califórnia executou tal obra, só que isso, o imperador Norton I já havia ordenado que fosse feito quase 75 anos antes...

Morto aos 61 anos, ele morre no meio da rua, de um ataque cardíaco fulminante.

Mais de 10 mil súditos visitam seu caixão e o cortejo fúnebre de 30 mil pessoas se estende por mais de 3 km.

No dia de seu enterro, houve um eclipse total do sol.

Sua lápide não tem a inscrição do seu nome, mas sim Imperador Norton I.

A nota de falecimento no San Francisco Bulletin, não poderia ser mais inspirada: "o Imperador Norton não matou, não roubou e não expulsou ninguém de seu país. Poderíamos dizer isso da maioria dos indivíduos que exerceram seu cargo?".

É de pensar, né?

Comentários

Élbio Porcellis disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Élbio Porcellis disse…
No Brasil o correspondente folclórico é Inri Cristo, autodenominado reeencarnação de Jesus, que vive sustentado pelos seguidores.

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