
"Por que um capítulo inteiro para falar de Madalena? Simplesmente, porque ela foi figura constante na vida de Jesus.
A primeira vez que aparece é relatada em Lucas 7: 36-50. Na casa de Simão, o fariseu, ela está entre os convidados e, tocada pela aura de amor que fluía de Jesus, jogou-se a seus pés, banhando-os com lágrimas e cobrindo-os de beijos.
O texto diz que ela era 'pecadora', não 'prostituta'. O que faria uma prostituta entre os convidados a estar com um profeta (como consideravam fosse Jesus)? A palavra 'pecado', em grego, é hamartia, que significa 'desviar da rota', 'errar o alvo'. Maria havia, portanto, 'se desviado da rota', o que, naquela sociedade patriarcal, era qualquer coisa que uma mulher fizesse que incomodasse os homens: andar sem véu, estudar.
Nesse ponto que ela era pecadora: buscava o conhecimento, a Verdade, e não havia encontrado, até encontrar Jesus. Quando isso aconteceu, não teve medo: fez o que seu coração mandou. Jesus entendeu: perdoou-lhe os 'pecados', porque 'ela muito amou', dizendo: 'A tua fé te salvou'.
Os fariseus ficaram escandalizados (indo da estupefação ao menosprezo): os beijos de Maria, nos pés de Jesus, denotaram desejo, que o Mestre aceitou, dando-Ihes uma dimensão pura e universal. Maria, com isso, centrou-se na rota, sem desvios (hamartia). Domou seu desejo carnal, tomando capaz de ouvir e entender os ensinamentos de Jesus.
E, mesmo que 'pecadora' tivesse, no texto, a conotação de 'prostituta', é interessante lembrar o que isso significa para os fundamentalistas: em pleno ano de 1999, quando morreu, o sheik Abdel-Aziz Bin Baz, líder religioso da Arábia Saudita considerava prostitutas as mulheres que estudam junto a homens (considerava também a Terra plana). Pensariam os judeus, 2.000 anos antes, de modo menos primitivo?
Quando toma a aparecer nos Evangelhos, ela já é um dos discípulos: sentada aos pés do Mestre, extasia-se adquirindo conhecimento (Lc 10: 38-42). Sua irmã, Marta desdobra-se no serviço e se irrita com a atitude contemplativa de Maria.
Jesus, sem reprovar Marta, a faz ver que Maria alcançou outro estágio, o conhecimento da Verdade: 'uma só coisa é necessária'. Uma pergunta: se ela era prostituta, seria aceita na casa dos irmãos?
O relato seguinte é o da morte do irmão delas: Maria chora, sem revolta, pois sabe que a morte do corpo é inevitável; Marta diz que se Jesus estivesse ali antes, teria evitado a morte. Ele chama Maria, chora com ela e a partir do amor oblativo que flui deles, busca no Pai a energia necessária para reviver Lázaro.
Durante a crucificação, Madalena é a única pessoa que os quatro evangelistas concordam que esteve junto com Jesus. É a primeira a ir ao sepulcro, segundo todos os evangelistas. É a primeira a ver Jesus ressuscitado, afirma João. Por que não Maria, a mãe, ou Pedro, o sucessor, ou João, o predileto?
(...) O Senhor amava Maria mais do que a todos os discípulos e a beijou na boca repetidas vezes. Os demais lhe disseram: 'Por que a queres mais do que a todos nós? ' O Salvador lhes disse: 'Por que pensais isso, que não vos quero tanto quanto a ela'?" (Felipe 55).
Alguns teólogos dizem que 'beijou na boca' significa 'transmitiu conhecimento', embora nenhuma Escritura diga que Jesus 'beijou na boca' outro dos muitos discípulos a quem 'transmitiu conhecimentos'.
'Pedro disse a Maria: 'Irmã, nós sabemos que o Mestre te amou diferentemente das outras mulheres. Diz-nos as palavras que ele te disse, das quais tu te lembras e das quais nós não tivemos conhecimento ...' (passagem do Evangelho de Maria Madalena).
Não afirmamos nada. Cada um conclua por si."
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